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Ler maisO real se desvalorizou 13,5% frente ao dólar desde 20 de abril, quando foi registrada a menor cotação de fechamento do ano: R$ 4,6397. O cenário mudou muito de lá para cá e a expectativa é de que a volatilidade permaneça, pelo menos, até outubro, quando acontecem as eleições presidenciais. “É a única certeza que se tem”, diz Mauro Morelli, estrategista da Davos Investimentos.
O principal fator que tornou o cenário mais desfavorável para o real e outras moedas
de países é a ameaça de recessão em algumas das principais economias mundiais. “O segundo trimestre foi movimentado por acontecimentos que influenciaram os mercados de câmbio ao redor do mundo”, afirma o head da WIT Exchange, Marcos Almeida.
Isto levou a um cenário de aversão ao risco, que também influenciou negativamente no mercado de ações. Desde o pico do ano, registrado em 1° de abril, quando o Ibovespa fechou em 121.570 pontos, o principal indicador da B3, a bolsa brasileira acumula uma queda de 17,5%. No mês, até o dia 5, houve uma retirada de R$ 622,5 milhões em recursos
de investidores estrangeiros.
As maiores preocupações estão com os Estados Unidos. A regional de Atlanta do Federal Reserve Bank (o BC americano) projeta que a maior economia global deve ter encolhido a uma taxa anualizada de 1,9% no segundo trimestre. O país enfrenta a maior inflação desde dezembro de 1981. Nos 12 meses encerrados em maio, ela atingiu 8,6%. E para conter a inflação, os Estados Unidos estão aumentando as taxas de juro. A zona do euro também deve seguir o mesmo caminho.
Segundo Almeida, ocorreu um pessimismo exacerbado desde que o Fed endureceu a postura de política monetária e subiu os juros no mercado norte-americano no maior nível desde 1994.
Outros fatores que também influenciaram nesse cenário são a guerra da Ucrânia e o retorno do surto de Covid-19 na China, que se refletiu em bloqueios temporários em cidades como Pequim e Xangai. “A perspectiva de menor crescimento chinês é mais problemático e tende a segurar o recente boom no preço das commodities”, apontam economistas do banco MUFG Brasil.
Ao mesmo tempo, o analista Leonardo Pellandini, do banco suíço Julius Baer, aponta que o cenário macroeconômico segue desafiador para os países da América Latina. E a cena política também pode impactar no câmbio. “A questão fiscal já azedou o leite”, complementa Morelli.
“Considerando que a moeda local caiu mais do que seus pares de mercados emergentes, acreditamos que a piora das perspectivas das contas públicas também exerceu pressão sobre o prêmio de risco dos ativos brasileiros”, citam os economistas da XP Investimentos em relatório.
Os economistas do banco MUFG Brasil apontam que há preocupações crescentes em relação às contas públicas. O governo propôs a PEC dos Benefícios, que aumenta os gastos públicos em 0,4% do PIB, fora do teto de gastos. A proposta deve ser votada na Câmara dos Deputados na próxima terça-feira (12).
“O valor é relativamente pequeno, mas o mercado está preocupado com a possibilidade de novas medidas, especialmente se o presidente Bolsonaro não reagir nas pesquisas eleitorais.” A expectativa da instituição é que o dólar atinja R$ 5,60 no final do ano.
Já a XP acredita que a situação do dólar pode ser amenizada depois das eleições. Segundo ela, o ambiente externo sugere uma taxa de câmbio mais estável pois não acredita que o Fed terá de ir muito além do que está nos preços hoje e as commodities ainda permanecerão em patamares elevados após o termino da atual correção para baixo.
O Itaú BBA considera que este cenário mais restritivo pode afetar a demanda por produtos agrícolas. O preço das commodities agrícolas já está caindo. Segundo a Bloomberg, as agrícolas caíram entre 3% (milho) e 28% (algodão) desde 8 de junho. Era um cenário já previsto pela instituição financeira e que estava ancorada no aumento esperado de produção na safra 2022/23, à exceção do trigo e do milho.
Mas o banco acredita que o impacto pode ser restrito, uma vez que boa parte das commodities são essenciais e os balanços globais de oferta e demanda não são confortáveis. Isto mitigaria correções indesejadas na avaliação na instituição financeira.
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